terça-feira, 18 de maio de 2010

Como projetar sua identidade virtual...

Você sabia que toda nossa personalidade é virtual? Pode parecer estranho, mas se estamos falando de personalidade como um lugar na alma, psique, que se expressa no comportamento através do corpo, é mais ou menos assim que funciona. Numa metáfora, seria como se o corpo fosse a morada da alma, ou como se o mundo interno fosse construído por “downloads”!
A psicanalista Melaine Klein (1882-1960) desenvolveu o conceito de mecanismos de projeção e introjeção do ego ainda no século passado. Naquela época, ela nem imaginava que, um dia, a Internet iria existir – e muito menos o download. Mas se tomarmos a tese de Melaine nos dias de hoje e compararmos o corpo humano a um computador, o download seria a introjeção e o upload, a projeção do ego.
Após a Revolução Industrial e os avanços tecnológicos, vários comportamentos que iam contra os valores judaico-cristãos, como as separações em família e a homossexualidade, deixaram de ser dramalhões. Conceitos tradicionais foram transgredidos, criando uma nova ordem de valores mais heterogênea e com menos limites. Por outro lado, esses também são valores massificados, descartáveis.
Nos últimos anos, as relações passaram a ser preparadas em “padrão” e consumidas por meio das tecnologias na Internet. Fomos incentivando relacionamentos fugazes sem a completude idealizada dos antigos tempos.
Enclausurada nesse conflito “o que eu quero e o que o outro quer de mim”, lá estava M.F., uma paciente que atendi, aos seus 33 de idade, morando com a mãe, formada em Direito, mas sem registro na OAB. Vivia em pânico, sem conseguir sair de casa; havia terminado um relacionamento alguns anos antes; só conversava com os amigos de maneira desanimada e esporádica via e-mail; tinha dificuldade de ir à balada e se expor, envolver-se, e muito medo de sentir-se rejeitada ou atraída. Com a terapia, ela decidiu deixar de jogar "The Sims" e passar a criar novas identidades online, paquerar em sites de relacionamento, preencher seu perfil em busca de alguém para reencontrar a si mesma.
Diante desse impasse entre o certo e o errado, somada à timidez e à baixa autoestima, namorar na Internet é uma maneira eficiente de desenvolver a personalidade, levando ao amadurecimento da sedução, do flerte e da conquista e à consciência sobre a natureza dos relacionamentos, se permitindo errar, acertar, ser rejeitado e rejeitar, conquistar e ser conquistado.
Ao seguir um mandamento, nem sempre se respeita um preceito moral, ao contrário: muitas vezes é transgredindo que conseguimos preservar valores fundamentais. Provavelmente essa seja a nova forma de esperar do outro o tanto de completude, encontro, equivalência, afinidade em tempo real com outra personalidade virtual.

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